segunda-feira, 9 de março de 2020

Sátiras e Bananas

E passou o carnaval, com o Brasil entrando novamente nos eixos, ou o oposto, dos dias comuns. Porém, nenhum dia é comum no Brasil da Nova Era, onde o Presida arranja, a cada dia, um motivo particular ou extremista para estar em voga no noticiário nacional.

A última do Excelentíssimo foi trazer o humorista Carioca o parodiando para falar com os jornalistas que o esperam sacramente, todos os dias, na porta do Planalto. Carioca então fez às vezes do Mandatário e saiu a falar com a imprensa, enquanto Jair ficava atrás de espectador desse show entristecedor, assim como sua claque de apoiadores, posicionada sempre perto dos repórteres que cobrem o Executivo Federal.

Carioca chamou para si as perguntas, na sátira chamada de Bolsonabo, e distribuiu bananas a jornalistas, que corretamente, não aceitaram, fracassando suas tentativas de fazer piada na situação. O fato, a essas alturas, já é sabido ser uma propaganda da nova programação da Record, que está sendo quase uma porta-voz governamental.

Mas o que mais me pegou foram dois tipos de comentários:

O primeiro falando sobre a questão de satirizar o presidente, comprando com a atuação do humorista Marcelo Adnet no desfile da Escola de Samba São Clemente, onde, em destaque, fazia um "político", mas obviamente parodiando o presidente; com a atuação de Carioca em Brasília no meio da semana.
Em primeiro de tudo, há diferenças entre as situações, pois em uma era a crítica ao comportamento governamental, e na outra, ainda que velada, propaganda das ações do representante maior do executivo.

O humor, em minha opinião, é a melhor ferramenta de crítica, sempre quando bem usado, para diversas situações, senão todas, ao seu modo. Ou seja, ambas as sátiras são válidas, porém uma, a de Carioca, vem para fazer o contrário de crítica, saudando um governo destemperado, como um bobo da corte do século XXI, como alguns apontaram. Dizem que o pior para o humor é servir as situações.

Em segundo, vem os comentários, esses já mais antigos, em relação ao governo e a imprensa. O Bolsonarismo batizou os veículos de mídia mais populares como extrema-imprensa, por sua postura crítica contra diversas medidas e declarações governamentais, sendo sempre vistos como uma tentativa de desqualificação e luta contra um "novo Brasil".

A imprensa sempre tem de busca ser oposição ao que está ocorrendo de errado e mal-feito, pois é a eterna oposição, aquilo que sempre deve se opor a direita ou esquerda, aos governos, pois, enquanto quarto poder, busca a evolução da sociedade, e ser isenta, mostra dois lados, para que essa mesma sociedade tire suas próprias conclusões. Assim, a imprensa nunca deve ser tratada com descaso, arrogância, ou ataques inflamados de quem quer que seja, desde um lunático, até o mais alto mandatário de uma nação.

Carioca, ao distribuir bananas, simbolizou gestos que Bolsonaro já havia feito contra a imprensa em outras declarações, e sabiamente ignorado por jornalistas, teve que fazer piadas a claque que riu como se não houvesse amanhã. E, sabiamente, a Record encobriu os rostos dos jornalistas ao mostrar a matéria em sua revista eletrônica dominical.


Carioca imitando o Presidente, na área de entrevistas do Planalto.| Foto: Reprodução da Internet