quinta-feira, 17 de junho de 2021

BBBifobia

 Aconteceu na maior rede de televisão do país: dois homens negros se beijaram, e assim, o caos ocorreu. Lucas Penteado e Gilberto Nogueira foram as estrelas do primeiro beijo gay que ocorreu em dezenove anos de Big Brother Brasil, e por conta disso, como gota-d'água, Lucas, que já vinha de uma sequência de discussões e abuso psicológico, pede para deixar o programa, após o caos provocado por Karol Conká, Lumena Aleluia, Pocah, e outros.

Apresentado o fato, venho me discorrer sobre ele, afinal, "somente" quatro meses depois, pois foi difícil digerir tudo, cada fala, cada grito, cada choro, e revolta. Tudo ocorreu naquele amanhecer de Domingo, na dita casa mais vigiada do Brasil. Depois disso, também veio a enxurrada que é esse programa por si só, e a própria dinâmica dos realitys shows.

Estamos em Junho, o mês em que os estadunidenses comemoram o mês do Orgulho LGBTQIAP+, basicamente, como resumem no twitter, o mês em que é proibido ser hétero (memes, pessoal). E aproveitei o bom distanciamento do fato para dizer que bifobia existe sim, e é mais comum do que podemos imaginar, e queria usar disso, como espaço para falar um pouco, e digamos, que com muito lugar de fala.

Quantos de nós, bissexuais, já fomos atacados por conta de nossa sexualidade, pelos estereótipos e preconceitos que imputam a nós, tantos os heterossexuais quanto os homossexuais, de sermos voluptiveis, traidores, indecisos, adeptos a ménages e orgias. Só que nenhuma dessas características pode ser definidora de um grupo de pessoas que possui a mesma sexualidade, e sim, a gostos e caráter do ser humano enquanto indivíduo único. Pois se houver traição em um relacionamento, não será pela orientação da pessoa per se, mas sim, por sua formação e caráter.

No caso relatado do BBB, a bifobia foi mais exposta por participantes que também estão abraçados a sigla, inclusive mulheres bissexuais, que também sofreram, e na minha visão, são as que mais sofrem, com isso. O que mais pesou, entretanto acredito que foram as ações em retrospecto de Lucas, e do medo de auto-promoção que ele poderia fazer dentro do programa, ainda que abrisse mais uma via de ataque num país já racista, que também é homofóbico e transfóbico.

No fim, entendemos que não podemos jamais atacar ou duvidar da sexualidade alheia, principalmente num país que mais mata os não-heteronormativos, em especial aqueles que estão expostos, fora dos armários e convenções pré-estabelecidas. Que Lucas e Gil continuem a ser felizes, tal qual Lumena, Karol, Pocah, e todos os outros, e que fique o recado a todos: não se rebaixa a sexualidade do outro.

sexta-feira, 4 de junho de 2021

O Ministério da Saudade

 A alguns meses, eu comecei um texto, e não o concluí. Era um texto que falava sobre mais uma troca de ministro da saúde em tempos de pandemia. Hoje é dia 04 de junho de 2021, e o Brasil vive a CPI, o caos, e as brigas entre os apoiadores do presidente e os que querem sua imediata saída do poder. Resgato o não-publicado texto em sua íntegra para dar continuidade ao que necessito falar nesse meu bel espaço:

Estamos em 24 de março de 2021, iniciando o ano 2 do decreto de pandemia em solo brasileiro, e pela quarta vez em um ano estamos trocando de ministro da saúde. No caso, nós, o povo, não; mas sim o mandatário da nação, no momento. 
De Mandetta a Queiroga, o Brasil travou debates acirrados nessa área, e viu cada ministro se manter ou cair, ao gosto da política sanitária que o presidente defende. Bolsonaro abraçou uma política anti-isolamento social e a favor de uma imunidade de rebanho, desejando que mais gente pegue o vírus, para ganhar a imunidade, e a economia não parar de girar. 
O presidente parece não captar que Economia é, acima de tudo, uma ciência humana, com muitas exatas, mas acima de tudo humana. Ela se baseia acima de tudo, no ser humano.

O presidente não reconhece em nós, povo ao qual deveria governar, apenas ratinhos de laboratório e gado ululante, que deve seguir cego suas ordens. Dos discursos na televisão e internet, às ações tomadas nesse tempo pandêmico, Jair Bolsonaro, ganhou o asco de boa parte dos líderes mundiais, dos estrangeiros, e de uma boa parte do país. O mitômano mais notório da população, cercados de seus ajudantes mal intencionados, nos guia sem medo algum, ao desespero econômico, a devastação, e a falta da saúde.

A CPI da Pandemia demonstra isso a cada depoente, seja aliado, ou opositor, ou até uma figura neutra, que iria se comunicar com quem quer que estivesse no governo. O presidente retardou vacina a sua população, escolheu incompetentes para provas suas teses, armou e desarmou quase tudo que esteve ao seu alcance para forçar a abertura de comércios em fases críticas, e formar factódies de informações sem contextos e mal explicadas, na busca, de mais uma vez ser o correto da história.

O brasileiro tem fome e necessidade, tem vontades e desejos, tem esperança no mar do desespero que corrói essa nação-continente do Oiapoque ao Chuí, e sabemos que o presidente é o pior que teríamos nessa situação. Que daqui há 30 anos ou mais não nos esqueçamos, e que em todas as eleições recordemos que uma pandemia pode surgir, e, então devemos nos perguntar: o que faria candidato x, ou y, em caso de emergência sanitária? Não pode ser como foi o Bolsonaro.

Por fim, fica no ar as dúvidas, até quando Bolsonaro será amaciado para continuar a governar desastrosamente, para ser mais comedido, o nosso país? Até quando ficaremos a mercê de Posto Ipiranga, da Boiada, da Cloroquema, da Elsa acordando a Bela Adormecida com um beijo gay, do massacre indígena, da milícia física e digital, do gabinete do ódio, do astronauta, do pokémon chuveiro, dos cagões de farda, do alt-right inernacional, do pum do palhaço, do conselho paralelo, da mamadeira de piroca, das teorias da conspiração?

Um bom grupo ministerial? Tenho saudades.