domingo, 14 de fevereiro de 2021

Brasil sem Folia

 Era esperado, e ocorreu: o Carnaval de 2021 ocorrerá sem folia, desfiles, fantasias, gritos, sambas ao vivo para foliões esmagados e suados, sem beijos em desconhecidos, sem choro de porta-bandeiras, sem balançares de chocalhos na Sapucaí e no Anhembí, sem shows no Terreirão do Samba, sem um milhão de cabeças cantando "Quem não chora, não mama...", sem Águia da Portela, sem hits de axé inundando as praças e rádios e os canais de televisão, sem coro de bêbados folclóricos amanhecendo na Presidente Vargas, ou as travestis realizadas ao desfilar como madames em cima das alegorias de uma escola, sem o riso da criança no bloco infantil ou o samba gospel do bloco da Paróquia São José, sem também Milton Cunha dando sua opinião sobre as novidades tradicionais dos carnavalescos na televisão, e sem aglomeração para ir até Copacabana nos blocos de samba num ônibus que não é frescão.

Não teremos também fantasias de SAARA e 25 de Março, nem as musas sambando com pedras e cristais swarovski coladas num maiô transparente, sem disputada de samba-enredo, nem marchinhas saudosas nos blocos infantis e de terceira idade, não veremos Viviane e seu tamborim a frente da Furiosa, nem Sabrina se acabando ao som da Swingeira, não veremos as fantasias de flamingos, gatinhos, e os marmanjos de saia, nem a expressão faceira dos olhares em busca de um amor de carnaval, nem teremos nossas alegorias esperadas, ou mestre Monarco saindo com a velha-guarda de Madureira, não veremos os trios elétricos percorrendo o circuito Barra-Ondina, quiçá Veveta, Claudinha, Margareth e Daniela.

Falta que fará a nossas cidades viventes de Carnaval, sinal pulsante de que o Brasil ainda se lembra, não se esquece jamais, e desde antes de mil e quinheitos, pulsa nessa terra Pindorama, o chamado a folia e ao despojamento, uma vez ao no, em busca de achar o fio de um sentido, de uma alegria, de terra sofrida de queimada constante e inundação perene, onde o que nunca falta, e jamais faltará é uma alegria sabiamente catequizada em sua festança, onde as baianas rodarão suas saias, os intérpretes defenderão suas sambas-hino, os mestres comandarão os ritmistas, e as comissões apresentarão suas escolas, enquanto nas ruas, os ranchos, blocos e cordões reviverão num ato de pura alegria para marcar de vez a saída do Brasil do seu fim, nem que seja só por quatro dias.

"Quanto riso, oh, quanta alegria,
mais de mil palhaços no salão..."


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